sexta-feira, 14 de setembro de 2018

PESSOAS BLINDADAS

Nas ruas, no transporte, nos lugares, estamos invisíveis.
Inaudíveis e enfim, inacessíveis.
Não queremos mais contato com quem nos é estranho.
Estranho isso, nos isolamos.
Nem mais nos olhamos.
Tampouco escutamos.
Aquilo ou aquele que estão na cara.
Olhar nos olhos virou coisa rara.
Ouvir? Pra quê?
Nem querem saber de você.
O que querem mesmo, é ir e voltar sossegados.
Sem serem importunados.
Mesmo que estejam infortunados.
Mesmo que queiram ficar enamorados.
Seus olhos estão ocupados.
Suas cabeças baixas e olhares atentos.
Mas apenas para o que está do outro lado da tela.
E o rapaz nem reparou na moça bela.
E a moça nem viu que alguém olhava pra ela.
Talvez fosse o amor da vida dela.
Aquele que ela busca nas redes de relacionamento.
Onde ela estava vidrada naquele momento.
Onde atualmente despejamos quase tudo da vida.
Nossa esperança, nossas emoções, nosso tempo.
Todo tempo disponível.
Sempre que for possível.
Tornamos tudo invisível.
Filhos, amigos, etc.
Se eles estiverem do lado.
Exceto se estiverem ligados, por um teclado.
Assim terão todo nosso tempo dedicado.
Desta forma, o rapaz será notado.
Curtido e até comentado.
E pra aumentar o circulo de amigos, será adicionado.
Seres autômatos nas ruas.
Frenéticos com os dedos.
Perfis explícitos nas redes sociais.
Escancarando todos os segredos.
Sem medo.
Sem receio de ser feliz.
Naquele mundo que não é real.
Onde procuram o par ideal.
Sem o olhar no olho, sem a delícia do acaso.
Mas como comprar por um catálogo.
Perfis abertos de pessoas fechadas.
Talvez porquê já foram machucadas.
Então se tornam blindadas.