sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

A MINHA INFÂNCIA E A DOS MEUS FILHOS

Nasci em época de ditadura militar.
Mas com certeza, eu não tive do que reclamar.
Sou de 64, e no Tatuapé eu nasci e cresci.
Lá passei minha infância que até hoje não me esqueci.
Foi por lá que fiz minhas artes e travessuras.
Infância boa de crianças puras.
Naquele tempo não havia muita televisão.
E era nas ruas que encontrávamos nossa diversão.
Pés descalços, quando muito, um “conguinha”.
Por vezes até dividindo um pé do par com um coleguinha.
Peladas de rua em vias quase sem movimento.
Apenas um ou outro carro nos interrompia por um momento.
Pintávamos traves de gol nas paredes.
E as próprias paredes eram nossas redes.
Quando não, os gols eram chinelos colocados ao chão.
E fazer passar a bola entre eles, era a nossa diversão.
Naquela época, eu fazia amigos na rua e na escola os encontrava.
Meus colegas de classe eram os mesmos que na rua eu brincava.
Se podia brincar do raiar ao fim do dia.
E durante ele, era só alegria e correria.
Minha infância boa que não volta mais.
Gostaria de proporcionar aos meus filhos, mas não sou capaz.
Meu primeiro filho nascido em 87, ainda desfrutou.
De algo que eu brinquei, ele ainda brincou.
Podia empinar pipas com cerol na linha.
Como era normal na infância dele, quanto na minha.
Ainda se podia brincar nas ruas e ter coleguinhas.
Mas já não existiam mais os “conguinhas”.
A garotada já tinha disponível a roupa de marca e tecnologia.
Embora ainda bem menos do que há hoje em dia.
Nossos filhos ainda nos lembraram um pouco do que vivemos.
E que deixamos pra trás quando amadurecemos.
Meu segundo filho, já nasceu em 2001.
E vendo a infância dele, não me lembro da minha em momento algum.
Nem das brincadeiras de rua, nem das peladas, nem de nada.
E hoje, eu tenho pena da atual molecada.
Eles têm coisa que nós nem sonhávamos que existiria.
A útil, mas talvez maldita tecnologia.
Crianças que não sabem nem sequer correr.
Mas que nos complicados jogos conseguem nos vencer.
Nascem, completam um ano, já com tablets e celulares na mão.
Presente de pais sem nenhuma noção.
Que pra se livrarem de crianças correndo pelas casas, por quintais.
Dão aos filhos distrações que os aquietam mais.
Por isso que na minha época, meus exemplos eram meus pais.
E hoje, exemplos, muitos pais já não são mais.
Eles têm hoje na internet, ídolos da idade deles que só merda eles falam.
Assistem um após o outro e nem pra comer eles param.
Culpa deles? Culpa dos pais? Culpa da tecnologia?
Acho que um pouco de culpa de todos hoje em dia.
Deles por acharem que horas sentado valem mais que horas correndo.
Dos pais por se sentirem melhor vendo o que eles estão fazendo.
Da tecnologia por ter lhes feito pensar que a ação está na tela.
Quando o melhor da vida é viver ela.
Posso afirmar pro meu filho, convicto do que estou falando.
Que minha infância correndo foi melhor do que a dele jogando.
Não posso me esquecer da culpa que o progresso tem.
Que só reservou espaço pra prédios e não pensou em ninguém.
Então só me resta ver o hoje me lembrando do ontem.
E torcer pra que coisas do passado voltem.
Em dias que pais queiram brincar com seus filhos.
E a falta de tempo e de espaço não sejam empecilhos.
Que eles lhes presenteiem com presença quando pequenos.
E não com coisas para evitar que os filhos os ocupem menos.
Que as crianças conheçam a tecnologia na hora certa.
E talvez lhes entregá-la cedo não seja uma atitude esperta.
Entre a infância deles com a tecnologia que eu não tinha.
Com certeza, sem sombra de dúvidas, eu prefiro a minha.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O TEMPO QUE TEMOS

Tempo... Quanto tenho de tempo?
Qual o tempo que eu tenho?
Tenho tempo pra fazer o que gosto?
Depende do meu empenho.

Tempo... Eu não tenho tempo.
O meu tempo é sempre corrido.
Ocupo-me muito com o trabalho.
Não dedico a quem amo o tempo devido.

Tempo... Não me sobra tempo.
De estar com meus filhos, nem pra visitar os meus pais.
Um dia vou encontrar um tempo pra isso.
Mas meus filhos terão crescidos e meus pais eu não terei mais.

Tempo... Eu preciso de mais tempo.
O trabalho está atrasado e está se acumulando.
Passo três quartos do dia na empresa.
E eu nem vejo o tempo passando.

Tempo... Quanto eu tenho de tempo?
Me olho rápido no espelho todo dia.
Nem noto que rugas me surgem no rosto.
Nem vejo em meu rosto um pouco de alegria.

Tempo... Como passa o tempo.
Ontem meu filho era um bebê e não andava.
Agora já caminha pela casa toda.
Salta, corre, sobe e desce escada.

Tempo... Perdi meu tempo.
Dediquei-me mais ao trabalho do que a quem eu amo.
Fui mandado embora da empresa.
E agora pra Deus eu reclamo.

Tempo... O que eu fiz do meu tempo?
Deixei-o passar sem aproveitar a vida.
Não aproveitei o que eu tinha a minha volta.
E muita coisa planejada foi esquecida.

Tempo... Desperdicei o meu tempo.
Trabalhei em demasia pra juntar dinheiro.
Sendo que pra ser feliz não custa muito.
É só saber viver o tempo inteiro.

Tempo... Deram-me um tempo.
Pra eu viver, não pra sobreviver.
Foi esse o plano de Deus.
Mas não o que eu soube escolher.

Tempo... Será que ainda dá tempo?
De eu recuperar minha família e de ir visitar os meus pais.
Tomar um chopp gelado na esquina.
Com os amigos que eu não vejo mais.

Tempo... Estou recuperando o tempo.
Agora já trabalho menos e curto mais a vida.
Antes que minha contagem regressiva cesse.
E minha estada tenha sido uma chance perdida.

Meus cabelos já caíram, meu corpo já definha.
Meus filhos já são adultos e tenho netos agora.
Recuperei muito do tempo perdido.
E quando Deus quiser, já posso ir embora.

Aproveitei bem o tempo restante que tinha.
Mas só depois que me dei conta do tempo voando.
Deixo aqui minha lição de vida.
Dê-me licença, meu tempo acabou e Deus está me chamando.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

VIDA, MINHA VIDA

Vida, minha vida.
Por onde me levastes, só eu sei.
Os caminhos que eu tomei, e os quais eu evitei.
Nos que eu me perdi e nos quais me encontrei.
Alguns tortuosos, alguns com espinhos.
Outros como estradas planas recém construídas.
Sem buracos, descidas ou subidas.
No final de muitos, um muro frente a mim.
Mas muitos caminhos onde o horizonte é sem fim.
Nas minhas viagens por esses caminhos.
Muitas pessoas me apresentastes.
Pessoas boas e várias que não cheiram e nem fedem.
Das boas, me fez cercar de muitas.
As más me fez evitar.
E por várias, só me fez passar.
Vida, minha vida.
Por muitas casas eu passei.
Algumas as quais, eu nem entrei.
Por várias situações eu me defrontei.
Errei em muitas, mas também em muitas eu acertei.
Nos meus relacionamentos, eu errei.
Nos meus projetos, me equivoquei.
Mas nas minhas opções pessoais, ah... Nessas eu acertei.
O meu aprendizado é sem fim.
E sei que ainda tens muito pra mim.
É o que penso ao não envenenar o meu corpo.
Embora eu saiba que tu possas apagar-me com um sopro.
Então, eu deixo-te me levar.
Colocando pessoas no meu caminho.
E que eu decida se quero seguir sozinho.
Dê-me alegrias ímpares e tristezas amenas.
Sabedoria pra enfrentar os problemas.
Sabendo sempre que rosas são lindas, mas têm espinhos.
E que muitos estarão nos meus caminhos.
Enfim, vida, minha vida.
Até que tu ainda não findes.
Que me deixes aprender, conviver e viver.
E que quando findares, que pessoas eu tenha marcado.
E que lembranças eu tenha deixado.
Porquê é pra isso que vivemos.
Nada do que se junta, se leva.
E só o que se distribui é a recompensa.
De ti bem vivida.
Vida, minha vida.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

MELHOR VER O CÉU NUBLADO DO QUE ENSOLARADO E SE APAIXONAR PELO SOL

Gostaria de te dizer coisas belas, mas não posso mais.
Pois o que tínhamos de bonito ficou pra trás.
E o tempo não volta pra nenhum reparo.
Os acertos passam e os erros custam caro.
Mas também, muito tempo se passou.
E o que era brasa, virou cinza, e talvez se apagou.
Não posso sequer lamentar.
Nem posso reviver, mas posso recordar.
As lembranças têm personagens, mas não tem dono.
Tenho-as com a mesma pessoa, mesmo em sono.
Fazer o quê? Se não podemos controlar alguns pensamentos.
Podemos sim, tentar desviá-los em alguns momentos.
Mas é difícil, quando é de algo que foi marcante.
Pode ser fácil, quando é sobre algo irrelevante.
Como alguém que você fica por alguns instantes.
E vive momentos que jamais serão importantes.
Podem se tornar, a princípio, prazerosos.
Mas nunca serão preciosos.
Apagar-se-ão da mente como poeira ao vento.
Talvez até nos faça se arrepender em algum momento.
Já passei por várias situações assim.
De estar com quem não gostava e que não gostava de mim.
De algumas nem sequer lembro o rosto.
Do sexo então, nem me lembro do gosto.
E isso é mau, muito mau!
Não lembrar-me de quem sentou no meu banco.
Sendo que quando amei, me lembro completamente.
De quem se deitou comigo e me amou loucamente.
Lembro do olhar doce dirigido à mim.
Ainda recordo o prazer sem fim.
Depois o aconchego dos corpos cansados.   
Os beijos de língua de dois apaixonados.
Lembro tintim por tintim.
E lembro que não fui culpado disso ter fim.
Mas cada um colhe o que planta.
Caiu? Sacode a poeira e levanta.
O tempo castiga, mas não enterra.
Siga adiante, senão a vida emperra.
Pode ser que nosso caminho seja uma reta.
E o que acabou foi sim, da forma correta.
Ou pode ser que nosso caminho seja um círculo.
E que uma pausa ocorreu em nosso vínculo.
Nunca se sabe o que Deus nos planeja.
Talvez ele ouça o que a gente deseja.
Vamos deixar o vento nos levar.
E vamos ver como tudo vai acabar.
Que eu encontre outro encanto nos olhos como o seu.
Que você seja feliz é um desejo meu.
Obrigado por tudo que nós juntos passamos.
Durante o ano que sim, nos amamos.
Por mais que nunca tenhamos dito claramente.
Estava no olhar, no toque e na mente.
Cuide-se meu anjo, minha amiga.
Se um dia estiver triste, me liga.