domingo, 31 de julho de 2022

PORTAS DESTRANCADAS

Dias atrás, alguém bateu em minha porta.
Como não estava trancada, deixei entrar.
Com um simples obrigado, foi se embora.
Caminhando porta afora.
Alguns dias depois, eu bati numa porta.
Já sabia quem ali morava.
A porta também não estava trancada.
E pedindo permissão pra entrar, entrei.
Sentei e admirei.
Tanto a casa quanto quem me deixou entrar.
Começamos a conversar.
E parece que essa conversa vai longe.
Vamos ver até onde vai chegar.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

SUOR E TALENTO

Lá na época dos meus avós, pra enriquecer, tinha que ser um desbravador.
Pois enriqueceu quem teve coragem e trabalhou muito duro.
Já na época dos meus pais, pra enriquecer, nem precisava de tanta coragem.
Já tinha algum caminho andado, mas o trabalho duro, ainda era necessário.
O talento ainda não dava conforto e o enriquecimento era a custa do suor mesmo.
Depois, já na minha época, pra enriquecer, continuava precisando do trabalho.
Alguns iniciando carreira e já começava a se ganhar dinheiro com algum talento.
Artistas já conseguiram ganhar dinheiro, com talento e muito trabalho.
Quando meu primeiro filho nasceu, em meados dos anos 80/90.
Ainda se trabalhava muito, com pouco luxo e com luxo pra poucos.
Os ricos eram os empresários, banqueiros e alguns com talento para as artes.
Quando meu segundo filho nasceu, já em meados de 2.000, viria outra realidade.
Se enriquecia com trabalho, carreira e talento, mas despontava outra realidade.
Despontava o que mais adiante virou uma nova forma de enriquecimento absurdo.
A tecnologia já começava a criar seus milionários, mas com muito trabalho e inteligência.
Já quando meu neto nasceu, em 2015, alguns milionários já eram bilionários.
Quem tinha trabalhado arduamente por uma vida, já vira tudo ruir com seus filhos.
Muitos impérios industriais desmoronados.
Muitas empresas se tornaram obsoletas.
E já surgiu um novo modo de enriquecimento, e absurdo, a internet.
Embora já fosse antiga, começava a gerar riqueza.
Primeiramente, com bom  conteúdo e informação. 
Depois, com o passar dos anos, avacalhou.
Bastava dizer um monte de merda que já se criava um canal.
Surgiu uma geração de antas e alienados.
A chacota alheia passou a ser explorada, curtida e compartilhada.
Enriquecendo quem, em matéria de talento, não tinha nada.
Bastava postar um vídeo e gente alienada.
Nada a ensinar, mas besteirol a mostrar aos montes.
Claro que surgiram gente talentosa e competente.
Foi uma janela para revelar tais talentos que nunca tiveram chance.
Mas também a abertura pra se acessar tanta porcaria.
Gente sem estudo, sem talento, virando celebres da noite pro dia.
As músicas da baixaria.
Cantores que sequer sabem o que é nota, mas ganham uma preta.
Juventude rebolativa e alucinada.
Seguidores de quem quase nunca, acrescenta nada.
Esses novos ricos da tecnologia.
Influenciadores como intitulam. 
Lhes tire a internet e serão o quê?
Muitos até largam o estudo pra ganhar dinheiro. 
Mas diferente do passado que também se largava pra sustento.
A vida ensinava, mas hoje ensina o quê?
Se eles nem estão querendo aprender.

quinta-feira, 28 de julho de 2022

OSTENTAÇÃO

Tem gente que se aproxima de quem ostenta.
Eu vou em sentido contrário.
Não curto ostentação.
Menos ainda, quando é sem noção.
Mas atrai gente como a merda atrai moscas.
Whisky caro na beleza da balada.
Por ele, a mulherada até dança pelada.
Aquele carro de encher os olhos, que eu até gosto de ver.
Mas até se eu estiver com dinheiro vazando pelo ladrão.
Não me dá nenhum tesão de ter.
Atrai moscas, assim como a merda.
Atrai pessoas que nem conhecidas são.
Sem sabermos se é porque gostam de nós, ou se é por outra razão.

quarta-feira, 27 de julho de 2022

QUANDO DESCOBRI QUE PODIA VOAR

Hoje estive onde tive meu primeiro emprego.
Com 14 anos, era uma criança ainda.
Esperta, mas pensa num filhote fora do ninho.
Era eu, não conhecia nada além das ruas que brincava.
Fui trabalhar como office-boy na Paulista.
Já na entrevista, peguei ônibus errado.
Peguei certo na ida, mas pra voltar, peguei o da ida de novo.
E fui em sentido contrário até chegar no final.
Office-boy, imagina. O dia inteiro na rua.
Pastei pra conhecer sampa.
Os itinerários dos ônibus no guia.
Os trombadinhas que enfrentei.
A mala gigante que carreguei.
E minha mãe sequer sabia.
Não contava nada em casa.
Em 4 anos eu recusei promoção.
Serviço interno o cacete, queria a rua.
Muita grana de condução.
Dinheiro na mão.
Gastava com comida, fliperama e um pouco com a condução.
Fazia tudo a pé, sob sol e chuva.
Hoje fui até a recepção do Eluma.
Fiquei por uns minutos e me vi saindo pela porta.
Calça azul marinho e camisa azul mais clara.
E uma baita mala, cheia de papelada.
Período da manhã e período da tarde.
Como me fez bem aqueles 4 anos.
O que enfrentei e o que aprendi.
Os bairros distantes que conheci.
E como eu cresci.
Eu pulei do penhasco e bati minhas asas.
E descobri que eu podia voar.