Há 57 anos eu escrevo um livro.
Que não tem dia pra terminar.
Nem número previsto de páginas.
Só Deus sabe o final.
Hoje terminei a página atual.
Nem sei qual é o número dela.
Só sei que tem muitos dígitos.
Nada de anormal.
Nenhum personagem novo incluído.
E entre os já constantes na história.
Cada qual no seu papel.
Nenhuma mudança de rumo.
Que vá alterar o rumo da história.
A minha história.
Sem dia pra encerrar.
O meu livro.
Com páginas em branco pra escrever.
Sobre coisas que acontecer.
Sobre quem aparecer.
Sobre o que valha descrever.
Pra ninguém nunca ler.