segunda-feira, 12 de outubro de 2020

O TEMPO QUE TENHO

Quero morrer no tempo da minha mãe.
Ou seja, quando perder a autossuficiência.
Quando já não conseguir mais ser eu.
Quero cair nos braços de Morfeu.
E despertar ao lado dela.
Em outro plano, vendo-a junto de meu pai.
Não imagino com que idade.
Mas espero que com tantas décadas.
Depois de contemplar filhos e netos.
E quem sabe alguns bisnetos.
Mas são, senão, não.
Não me imagino dependente.
Seja por estar doente de corpo ou de mente.
Não quero.
Não sei quanto tempo tenho.
Mas no que tenho de tempo.
Quero andar com minhas próprias pernas.
Conseguir levar comida pra minha boca.
Sem fralda pra ser trocada.
Quando eu não conseguir mais fazer isso.
Minha estada já estará acabada.
Posso tranquilamente validar meu ticket.
Pois já terei vivido bem a vida.
E deste plano, não quero mais nada.
Semear, semeei.
Regar, eu reguei.
Amar, eu amei.
Exemplo, eu dei.
Errar, eu errei.
Mas, mais acertei.
Ainda não fiz tudo o que quero.
Mas ainda tenho tempo pra isso.
Eu ainda tenho muito tempo.
Minha viagem vai me esperar.
Ainda tenho coisas pra terminar.
E sonhos pra realizar.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

TEMPO DAS ANTIGAS

Sou do tempo das antigas.
Quando os pais ensinavam educação.
Fosse na base da cinta de couro.
Tapa na orelha ou beliscão.

As brincadeiras eram na rua.
Os brinquedos, eram artesanais.
Quando não se podia comprar pipas.
As capuchetas eram de jornais.

O futebol era com pés descalços.
Muitas vezes com bola furada.
Cada chute dado no chão.
Uma parte do dedão era arrancada.

Eramos garotos ativos.
Nossas casas não nos seguravam.
Entrávamos apenas pra comer.
Porque as brincadeiras nos esperavam.

Não existia tecnologia.
Mas existia a imaginação.
Um aro de borracha e uma longa vareta.
Era pra nós uma diversão.

Três gravetos apoiados um no outro.
Mais dois pedaços de pau e uma bolinha.
Dois pra derrubar e dois pra rebater.
E a corrida na queda da casinha.

Naquele tempo, a gente empinava pipas.
E já tinha cerol na linha também.
Era apenas uma brincadeira de criança.
E linha com cerol não matava ninguém.

Tinhamos apelidos esquisitos.
Alguns até sobre a aparência de alguém.
Mas éramos fortes pra lidar com isso.
E todos cresceram normais, e bem.

Nós tínhamos respeito a escola.
Nossos professores eram respeitados.
Se algo parecia mal no boletim.
Os alunos que eram os culpados.

Tínhamos presidentes militares.
E dizem que era período de opressão.
Sinceramente, eu não vivi nada disso.
Se seguia regras, se tinha respeito e educação.

Eu posso rimar sobre o que vivi.
Não devem acreditar no que ouviram falar.
O passado foi um período memorável.
Se não sabe a verdade, melhor se calar.

MULHERES E FLORES

Mulheres são como flores.
Cada uma de um jeito, cada qual com sua cor.
Geralmente belas.
Mas nem sempre, se não cuidadas.
Se maltratadas.
Algumas não tem beleza ou cor.
Mas exalam um perfume encantador.
Igual a dama da noite.
Arbusto discreto, sem flores deslumbrantes.
E que tem um encanto que ninguém vê.
Mas sente, como a mulher.
Algumas não tão belas, tem seu perfume.
Basta não usar os olhos pra ver.
Basta usar outros sentidos pra perceber.
Assim como as flores.
Formas e cores.
Cada qual com seu encanto.
Nem tanto.
Algumas não encantam.
Nem com a beleza, tampouco com perfume. 
Mas ainda são mulheres e flores.