segunda-feira, 12 de outubro de 2020

O TEMPO QUE TENHO

Quero morrer no tempo da minha mãe.
Ou seja, quando perder a autossuficiência.
Quando já não conseguir mais ser eu.
Quero cair nos braços de Morfeu.
E despertar ao lado dela.
Em outro plano, vendo-a junto de meu pai.
Não imagino com que idade.
Mas espero que com tantas décadas.
Depois de contemplar filhos e netos.
E quem sabe alguns bisnetos.
Mas são, senão, não.
Não me imagino dependente.
Seja por estar doente de corpo ou de mente.
Não quero.
Não sei quanto tempo tenho.
Mas no que tenho de tempo.
Quero andar com minhas próprias pernas.
Conseguir levar comida pra minha boca.
Sem fralda pra ser trocada.
Quando eu não conseguir mais fazer isso.
Minha estada já estará acabada.
Posso tranquilamente validar meu ticket.
Pois já terei vivido bem a vida.
E deste plano, não quero mais nada.
Semear, semeei.
Regar, eu reguei.
Amar, eu amei.
Exemplo, eu dei.
Errar, eu errei.
Mas, mais acertei.
Ainda não fiz tudo o que quero.
Mas ainda tenho tempo pra isso.
Eu ainda tenho muito tempo.
Minha viagem vai me esperar.
Ainda tenho coisas pra terminar.
E sonhos pra realizar.

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