Era sobre duas pessoas de seus 70 anos.
Ambos solitários e vizinhos.
Numa noite, ela bate na porta dele.
Toda sem jeito, mas com coragem.
Ele, todo sem jeito e surpreso.
Afinal, eram vizinhos há anos.
Mas não se falavam e nem se enxergavam.
Toda iniciativa dela foi pra uma proposta.
Não indecente, e sim surpreendente.
Convidá-lo para dormir com ela.
Para preencher o vazio das noites solitárias.
Sem sexo, apenas conversa.
Nem tinham mais pique sexual.
E ele aceitou.
Todas as noites ele ia dormir com ela.
Tão puros como se fossem duas crianças.
Apesar das experiências que já carregavam.
De suas longas vidas já vividas.
Divididas com pessoas que já haviam partido.
Fosse pra morte ou pra sorte.
E que os lançara na vida solitária.
Que a gente se acostuma com ela.
Que a gente passa a achar bela.
Mas que num determinado dia.
Quando alguém bate na nossa porta.
E nos faz uma proposta.
Ou de alguma forma nos mostra.
Que há um lado vazio.
Seja na cama ou no coração.
Mesmo que a gente ache que não.
Que não tenhamos essa sensação.
Em qualquer tempo, será o momento.
Do nosso próprio julgamento.
Seguir sozinho ou acompanhado.
Até que nosso tempo tenha se esgotado.
E não há ninguém do nosso lado.
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