Ei! Você gosta de onde mora?
Sim, eu gosto, consegui comprar com muito custo.
Tenho todo conforto que preciso.
Uma sala ampla com uma grande TV de led.
E até um terraço pra receber os amigos.
Foi decorado de acordo com o que eu preciso pra estar
bem.
Tudo do bom e do melhor.
Ei! Eu não perguntei do local onde o seu corpo mora.
Eu perguntei do corpo onde mora a sua alma.
Sua moradia desde que você nasceu.
E que se ajustou conforme você cresceu.
Sem sequer você comprar um tijolo.
Sem querer você colocar a mão na massa.
Você só precisou se preocupar com uma coisa.
E se olhando no espelho hoje, você acha que se preocupou?
Você só tinha que administrar a construção dele.
Com a qualidade do material que usava.
Pra que a obra, que é prima, e que não finda.
Nunca venha a desabar, antes de Deus mandar.
Então, assim como para a morada do teu corpo.
Você também usou tudo do bom e do melhor?
Afinal, é o teu corpo, a tua real morada.
Sendo nele que irá morar a sua vida toda.
E por ela você não gastou nada.
Agora se veja no espelho e olhe para sua casa.
Gastou mais tempo e atenção para qual das tuas moradas?
Aposto eu, que para a que mora o teu corpo.
E também aposto, que para a que mora a alma, não gastou
nada.
Gastou sim, em apetrechos para enfeitá-la.
E quando os tira a noite, vê a morada arruinada.
Medidas imperfeitas.
Estrutura desgastada.
Sinais de rachaduras com o tempo.
Uma obra, que prima, mal cuidada.
Então, você já dentro da morada do teu corpo.
Vai curtir o bem estar com tudo o que comprou.
Assistir um programinha na grande TV de led.
Deitado no sofá hiper, mega confortável.
Controle remoto na mão pra não precisar se levantar.
Afinal, trabalhou duro para ter esse conforto.
E é hora de descansar o corpo.
Esquecer a correria, deixar fazer digestão, curar a
ressaca.
Enfim, relaxar.
Mas e a morada da tua alma?
Em momento nenhum, a obra, que é prima, para.
Nem mesmo confortável como está.
Mas de repente, uma dorzinha leve no peito.
Que é logo ignorada.
Como não é a cama king size.
Para onde você vai, pra se deitar.
Para nunca mais se levantar.
A morada do corpo impecável e intacta.
A da alma, frígida numa mesa de hospital
Um grande “V” de pontos no peito.
Depois de uma minuciosa vistoria dela.
E o que se descobre é que enquanto a TV era de led.
A maior obra do universo não estava tão bela.
Por ironia da prioridade que é humana.
Enquanto se desfrutava o conforto da morada do corpo.
A da alma te despejava do desfrute.
Das duas não se levou nada.
Sendo que uma era construída com ambição.
E a outra era apenas emprestada.