Eu ainda estava em teu ventre quando senti os primeiros carinhos.
Você alisava aquela grande barriga, redonda como a Terra.
Ouvia quando conversava comigo num monólogo solitário.
Eu queria responder-te, mas eu não sabia falar.
Então eu te chutava e te dava socos.
E você perseguindo meus chutes.
Eu sentia em teu corpo a felicidade de ter-me dentro de ti.
Eu deformei o teu corpo e suguei o teu sangue.
Mas mesmo assim você me amava.
Eu podia sentir na tua pele e na tua temperatura.
Você me guardou por vários meses, sempre com amor e carinho.
Mas chegara o momento de eu vir ao mundo.
E eu estava ansioso para te conhecer.
Você estava se divertindo, quando eu te privei dos teus prazeres para me deixar nascer, e enfim eu nasci.
Desocupei o teu corpo para ocupar apenas o teu coração.
Acabara o teu sossego e tuas horas de sono, e começara naquele momento a tua dedicação para mim.
Eu fui crescendo, aprendi a andar, comecei a falar.
Mas a primeira palavra que eu disse não foi “mamãe”.
E nem assim você me achou um ingrato.
Você me cercava de cuidados e eu não sabia te agradecer.
Eu cresci e me tornei adolescente, mas nunca te agradeci.
Gritei com você, te fiz chorar, e sempre tive o teu perdão.
Agradecer, eu nunca te agradeci.
Por ter me levado dentro do teu corpo.
Ter me acalentado em teus braços quando eu chorava.
Ter me agasalhado com teu calor materno para que eu não me sentisse só.
E eu nunca te agradeci.
Agora eu sou um adulto, um ingrato adulto.
E só hoje minha mãe eu escrevo esta linhas para te agradecer.
E me desculpar pelas noites mal dormidas.
Por deformar o teu corpo.
E por nunca lhe ter feito um carinho como aqueles que você sempre me fez.
Talvez eu nunca tenha lhe dito que eu te amo.
Mas saiba que eu te amo, minha mãe.
Do meu jeito, mas eu te amo.
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