sábado, 9 de maio de 2009

O REFLEXO

Olho para a superfície límpida de um rio.
Nela vejo um rosto a me encarar. 
Atiro uma pedra no rio.
Pequenos círculos começam a se formar e novos círculos dentro destes.
O rosto começa a desfigurar-se em pequenos reflexos que somem lentamente.
Levo minhas mãos ao rosto, pois o rosto a desfigurar-se era o meu.
Fico olhando aquele rio.
Espero alguns segundos e novamente meu reflexo surge.
Desta vez está sério, temeroso de que eu possa atirar outra pedra.
O semblante sério me induz a repetir meu gesto.
Novamente surgem os círculos brotando não sei de onde.
Fico olhando aquele rio.
A superfície do rio se abranda e nela procuro o meu reflexo.
Desta vez está triste.
A tristeza reflete em meus olhos e arranca-me uma lágrima.
Cai como uma pedra na superfície do rio.
Desta vez não surgem os círculos.
Mas o reflexo está lá, altivo e imponente.
Como se estivesse satisfeito por ter-me visto chorar.
De repente tudo volta ao normal, a superfície calma, o reflexo.
A imagem no rio acompanha meus trejeitos.
Mas uma coisa mudou e eu aprendi.
As pedras que atirei doeram mais que o brilho da luz que me fez lacrimejar.
Fico olhando aquele rio.
Nele vejo um rosto a me olhar.
Agora está sorrindo, pois não atirei nenhuma pedra.
O sorriso reflete em meus olhos.
Não arranca de mim nenhuma lágrima.

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